Galeria dos Mártires - Pe. Rutilio Grande e Camponeses

RUTÍLIO GRANDE
Mártir da Libertação dos Oprimidos
EL SALVADOR * 12/03/1977

Em 12 de março de 1977, o padre Rutílio Grande, jesuíta - acompanhado por Manuel Solorzano, 72, e Nelson Rutílio Lemus, 16 - dirigia o Jeep concedido pelo Arcebispo Dom Oscar Romero na estrada entre a cidade de Aguilares com o Município de O Paisnal, para celebrar a missa da novena de São José, quando os três foram emboscados e assassinados por esquadrões da morte.

Ao saber dos assassinatos, o arcebispo Oscar Romero que era amigo do Pe. Rutílio foi ao local onde os três corpos estavam e celebrou a missa. Em seguida, Romero passou várias horas a ouvir os agricultores locais, conhecendo suas histórias pessoais de sofrimento e horas em oração também. Na manhã seguinte, depois de se encontrar com os sacerdotes e conselheiros, Romero disse que não iria participar de qualquer ocasião em atividades em conjunto com o governo e o presidente - sendo ambas as atividades tradicionais - até que a morte dos três fosse investigada. Como nenhuma investigação foi feita, Dom Oscar Romero não mais participou de qualquer cerimônia do estado, durante os seus três anos como arcebispo.  

No domingo seguinte, para protestar contra os assassinatos de Rutílio Grande e seus companheiros, o recém-instalado Arcebispo Romero cancela as missas em toda a Arquidiocese, e convoca a todas as comunidades para celebrarem uma missa na Catedral de San Salvador. 

Bispos de outras igrejas salvadorenhos criticou a sua decisão, porém, mais de 150 sacerdotes concelebraram a Missa e mais de 100.000 pessoas se reuniram na catedral para participar da celebração e ouvir o Arcebispo Romero, que pediu o fim da violência.

Na homilia, Romero afirmou:

“Queridos irmãos; o Padre Rutílio Grande era como um irmão para mim. Em momentos culminantes da minha vida, ele estava muito perto de mim e nunca esquecerei tais gestos, mas o momento não é de pensar pessoalmente, mas para recolher deste corpo uma mensagem para todos nós que seguimos peregrinando.

A mensagem que eu quero tirar das palavras do Papa, quando fala da evangelização, nos dá as diretrizes para entender Rutílio Grande: "qual o compromisso da Igreja universal com a luta para a libertação de tanta miséria?" E o Papa recorda que, no Sínodo de 1974 as vozes dos Bispos de todo o mundo, representadas principalmente naqueles bispos do Terceiro Mundo, diziam sobre: "A angústia desse povo com a pobreza, a fome, a marginalização”. E a Igreja não pode estar ausente na luta de libertação, mas sim presença na luta para levantar, para dignificar o homem. Tem que ser uma mensagem, uma presença muito original, uma presença que o mundo não pode entender, mas leva a esperança da vitória, do êxito.

O verdadeiro amor pela igreja e o povo é que fez com que Rutílio Grande, e os dois camponeses fossem martirizados. Assim, amou a Igreja, morre com eles e os apresentou para a transcendência do céu. 

Ele os ama, e é significativo que, enquanto o Padre Rutílio Grande caminhou para o seu povoado, para levar a mensagem da missa e da salvação, é que foi assassinado, que caiu crivado. Um sacerdote com seus camponeses caminham para seu povoado para se identificar com eles, para viver com eles, não uma inspiração revolucionária, mas sim uma inspiração de amor e precisamente porque é o amor que nos inspira a sermos irmãos. 

Quem sabe se os criminosos não estão escutando essas palavras em seu rádio, enquanto vão para seu esconderijo? Queremos dizer, aos irmãos criminosos, nós te amamos e pedimos a Deus para o arrependimento de seus corações, porque a Igreja não pode odiar os inimigos. Somente são inimigos, os que se declaram: "Perdoai-os, Pai, porque eles não sabem o que fazem".

Na Eucaristia de 13 de Fevereiro de 1977, Rutílio Grande denunciava: “A Eucaristia que estamos a celebrar alimenta este nosso ideal de uma mesa comum para todos, com um lugar para cada um e Cristo no meio”.

Dom Oscar Romero diria que foi o exemplo do Padre Rutílio e a sua morte que o convenceram a pôr-se decididamente ao lado dos pobres de El Salvador.

Os Objetivos de Rutílio Grande:

“Pequenas comunidades vivas de mulheres e homens novos, conscientes da própria vocação humana, capazes de se tornarem protagonistas do seu próprio destino individual e social; alavancas de transformação”.

Frases de Rutílio Grande:

"Nós temos um Pai comum, então somos todos filhos do mesmo Pai, mas nós nascemos do ventre de mães diferentes. Portanto somos todos irmãos".

"Queremos ser a voz dos que não têm voz para denunciar todos os abusos contra os direitos humanos. Que a justiça seja feita, que não ficam impunes os criminosos, que se reconheça quem são os criminosos e dar uma indenização justa para as famílias que ficaram desamparadas."

Igreja preparará a beatificação de Padre Rutílio Grande

Segundo o padre jesuíta, José María Tojeira, o arcebispo de San Salvador, Dom José Luis Escobar, anunciou na reunião do clero, do dia 4 de março de 2014, que daria início à investigação sobre a vida do Padre Rutílio Grande e, dessa forma, iniciaria sua causa de beatificação.

“É preciso abrir um processo diocesano, este ainda não está aberto, mas disse (o Arcebispo) que já havia encarregado um sacerdote para que fosse buscando material para poder abrir o processo diocesano para o caso de beatificação de Rutílio Grande como mártir”, disse Tojeira.

Rutílio Grande, em suas homilias e trabalho sempre apresentou a denúncia das desigualdades da época, e seu assassinato foi para calar suas denúncias. Foi precisamente esse fato o que inspirou o então arcebispo de San Salvador, Dom Oscar Arnulfo Romero, a denunciar a injustiça social. Romero foi assassinado pela mesma causa no dia 24 de março de 1980.

“Nós temos que oferecer muita informação sobre ele, estamos muitos dispostos a oferecê-la. É para nós uma honra que o Arcebispo tenha fixado seus olhos em Rutílio Grande e queira iniciar o processo de beatificação. Nós estávamos convencidos de que é um mártir, e estávamos esperando a beatificação de dom Romero para introduzir a causa de beatificação de Rutílio, mas o Arcebispo se adiantou”, disse Tojeira.

Na atualidade, o gesto e a vida do Padre Rutílio vem sendo recordados de diferentes maneiras em seu município e fora do mesmo. É sempre lembrado e celebrado sua memória e sua opção pelos pobres, nas comunidades comprometidas com as mesmas causas pela qual ele caiu mártir.

Texto elaborado por Tonny da Irmandade dos Mártires da Caminhada.

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